TrustPid - Operadores de Telecomunicações tentam entrada no negócio dos anúncios personalizados mas a que custo?
junho 25, 2022 em 3:18 ,
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Telcos e a entrada no negócio dos anúncios personalizados - pode o novo sistema de tracking TrustPid violar direitos de privacidade dos utilizadores?
Enquanto a Google trabalha em reconfigurar a sua tecnologia de adtech para se afastar da cada vez mais polémica segmentação de anúncios baseada em cookies, inclusive promovendo de forma forçada a passagem do Google Analytics Universal (GA3) para o GA4 e após a própria mudança da Apple em 2021 que bloqueou a terceiros o tracking de utilizadores nos aplicativos iOS – várias Telco (empresas de telecomunicações) na Europa estão a ver nesta mudança uma oportunidade de entrar no lucrativo negócio dos anúncios personalizados.
Telco europeias detetam oportunidade de entrar no negócio dos anúncios personalizados
Nos últimos meses, várias empresas de telecomunicações europeias (exemplo da Vodafone na Alemanha ou a Orange em Espanha) estão a testar o que é descrito como uma “infraestrutura entre operadoras para publicidade digital e marketing digital” – conhecida como TrustPid.
Como no caso de todas as atuais redes de anúncios segmentados, a alegação é de que esta abordagem é “segura e amigável da privacidade do utilizador”. Mas será mesmo?
TrustPid – o que é e como funciona?
O TrustPid é um sistema de identificação persistente de clientes, que utiliza um código de identificação único. Este código não está dependente de qualquer cookie ou browser (navegador da internet) do utilizador.
Adicionalmente e devido ao próprio sistema da rede GSM em uso, é possível obter dados de localização exata de cada cliente – o sonho de qualquer marketer e o pesadelo de qualquer indivíduo que preze a sua privacidade.
Na prática isso significa que qualquer utilizador de redes móveis passaria a estar permanentemente rastreável com esta tecnologia de identificação.
Organismos de regulação de privacidade europeia já estão alertados
Os reguladores de privacidade da UE estão já em alerta antecipado, tendo apresentado reclamações e/ou levantado preocupações sobre a abordagem das empresas de telecomunicações – o que sugere que uma intervenção regulatória poderá ocorrer se as operadoras decidirem avançar com um lançamento completo no mercado europeu.
Operadoras dizem que objetivo principal é manter a internet grátis
Por seu lado, as operadoras estão a utilizar várias justificações para criar esta rede. Diretamente no site da TrustPid diz:
“Os consumidores apreciam a ideia de uma Internet “gratuita”, mas isso vem com um trade-off: os editores precisam de um modelo de receita sustentável, o que significa que se torna essencial adicionar paywalls de assinatura ou contar com publicidade para manter o acesso gratuito a conteúdo de alta qualidade.”
Com uma tendência crescente de compartilhamento de informações digitais no ecossistema, as preocupações dos consumidores com a privacidade e a quantidade de informações passadas na Internet gratuita aumentaram.
De acordo com os próprios, a TrustPid é uma solução de tecnologia que permite aos consumidores desfrutar de conteúdo gratuito e os benefícios da Internet aberta, mantendo o controle sobre sua privacidade.
As Telco também designam este projeto como “contra-design para cookies de terceiros” – e dizem que envolve a criação de “tokens pseudo-anônimos” que estão vinculados ao IP do utilizador do dispositivo móvel e ao número de telefone móvel (uma informação que é classificado como um dado pessoal ao abrigo da legislação da UE).
Segundo elas, a principal vantagem desta tecnologia quando comparada com os tradicionais cookies é que diferentes tokens são gerados para cada parceiro de anúncio – o que segundo as Telco permite "limitar" o uso combinado de dados de diferentes parceiros de anúncio para data mining e criação de perfis hipersegmentados de clientes.
Mas a segmentação de anúncios de nível individual ainda é permitida, sem que o utilizador se possa opor devido à aceitação prévia de termos de utilização.
As empresas de telecomunicações envolvidas no TrustPid estão a propor gerir - e muito provavelmente monetizar - o acesso dos anunciantes a esta infraestrutura de rede de anúncios.
O que acha? Será que esta iniciativa vai ajudar a melhorar a privacidade dos utilizadores ou pelo contrário, vai expô-los ainda mais?
Fontes: https://techcrunch.com, https://trustpid.com e https://blog.malwarebytes.com/